Plumas
Trago em mim esse teu perfume terno
Dele me visto, nele me agasalho
Somos dois pássaros no mesmo galho,
Que o sol aquece, num ramo ermo
És acastanhada e eu talvez pardo...
Vês no reflexo lânguido da luz
E crês nessa letargia que nos conduz,
quando à meia claridade em ti tardo
Sou água limpa, nascente cálida,
A tua sede, céu claro e dia santo
És canto, lisura e tamanho encanto,
A verdade e no meu amparo sempre válida
Somos sim, soma e uníssono,
Pele, pluma e olhos nos olhos, adorno
Somos mar, arrolho e amor aos molhos,
Sonhos salpicados,
interregno atiçado do sono
Rute Pio Lopes
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