Plumas

 

Trago em mim esse teu perfume terno
 Dele me visto, nele me agasalho
 Somos dois pássaros no mesmo galho,
 Que o sol aquece, num ramo ermo
 És acastanhada e eu talvez pardo...
 Vês no reflexo lânguido da luz
 E crês nessa letargia que nos conduz,
 quando à meia claridade em ti tardo
 Sou água limpa, nascente cálida,
 A tua sede, céu claro e dia santo
 És canto, lisura e tamanho encanto,
 A verdade e no meu amparo sempre válida
 Somos sim, soma e uníssono,
 Pele, pluma e olhos nos olhos, adorno
 Somos mar, arrolho e amor aos molhos,
 Sonhos salpicados,
interregno atiçado do sono
 
Rute Pio Lopes


Imagem: MB, Moita, 22.08.2021




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