Hoje deitei-me ao lado da minha solidão

 

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
O seu corpo perfeito, linha a linha
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do próprio coração.

Moreno, era a forma das pedras e das luas
Dentro de mim alguma coisa ardia:
a brancura das pedras maduras
ou o medo de perder quem me perdia.

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
e longamente bebi os horizontes,
E longamente fiquei até sentir
O meu sangue jorrar nas próprias fontes

Eugénio de Andrade

Imagem: MB, Moita, 18.08.2023



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