Mia
"Minha mãe deixava restos de comida numa varanda aberta, que dava para a rua. Juntavam-se dezenas de gatos, que comiam e dormiam por lá.
Há fotos que me mostram, ainda menino, dormindo e comendo junto com os gatos. Para mim, não havia muito a distinção entre ser bicho e ser pessoa. Acho que nós todos nos fizemos humanos por meio das relações e do contato com os animais.
Quando tinha dois anos e meio, “Mia” foi o nome que declarei que gostaria que me chamassem, em homenagem aos gatos. O mais curioso foi a aceitação dos meus pais. Eles acharam que eu já tinha a competência e o direito de me renomear. Hoje, se me chamarem de António, eu não sei quem é."
Mia Couto
Imagem: MB, Bia, 30.10.2023
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