Já não me importo

 Já não me importo

Até com o que amo ou creio amar.

Sou um navio que chegou a um porto

E cujo movimento é ali estar.


Nada me resta

Do que quis ou achei.

Cheguei da festa

Como fui para lá ou ainda irei


Indiferente

A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente

Que me rodeia e sempre rodeou,


Com um olhar

Que, sem o poder ver,

Sei que é sem ar

De olhar a valer.


E só me não cansa

O que a brisa me traz

De súbita mudança

No que nada me faz.


Fernando Pessoa, in Novas Poesias Inéditas

Imagem: MB, Lisboa,  02.04.2025






Comentários

Mensagens populares deste blogue

Aconchegante

Onda

Poema de Natal