O ausente

 

Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos 
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses 
Para ficar sozinha ante o silêncio 
Ante o silêncio e o esplendor da tua face 

Mas tu és de todos os ausentes o ausente 
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão  me toca 
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro 
São planícies e planícies de silêncio 

Escura é a noite 
Escura e transparente 
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco 
E eu não habito os jardins do teu silêncio 
Porque tu és de todos os ausentes o ausente 

Sophia de Mello Breyner Andresen, Eis-me, in Livro Sexto

Imagem: MB, Gaio, 02.11.2025



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