Erosão...


EROSÃO… CORROSÃO… DESGASTE…

O tempo também cria, não destrói … apenas gera novas formas...

O efeito da passagem do tempo… por nós e pelo que nos rodeia…

O tempo que, por vezes, nos parece célere, outras vezes nos parece lento, mas que é - sempre - inexorável.

O tempo que, ao contrário do que, num primeiro momento pensamos, nem sempre (ou só) destrói, mas que, ao esboroar, corroer, desgastar, também cria e gera novas formas…~

Em qualquer dicionário da língua Portuguesa encontramos a definição de TEMPO como um substantivo masculino de origem latina (tempus), com o significado de “duração limitada, por oposição à ideia de eternidade; período; época; sucessão de anos, dias, horas, momentos, que envolve, para o homem, a noção de presente, passado e futuro; meio indefinido onde se desenrolam, irreversivelmente, as existências na sua mutação, os acontecimentos e os fenómenos na sua sucessão; certo período determinado em que decorre um facto ou vive uma personagem; oportunidade; ensejo; estação ou ocasião própria; prazo; duração; estado atmosférico (…)” (Dicionário Universal da Língua Portuguesa, Texto Editora, 1995).

As imagens que se apresentam nesta página resultam do amadurecimento de uma ideia nascida no decorrer do ano de 2018, quando a autora (fotógrafa amadora) se começou a interessar em fotografar objectos que a rodeavam ou com os quais se deparava, constatando os efeitos que o tempo, seja por acção meramente natural, seja com o conluio do Homem, neles produzia. Efeitos esses que, bastas vezes, ou melhor, após um olhar mais atento ou menos imbuído de preconceitos, não se afiguravam destrutivos, mas antes pareciam gerar novas e – reflexo de um olhar necessariamente subjetivo – quiçá, belas e/ou originais formas…

Como ponto de partida, o olhar desta fotógrafa centrou-se nos efeitos da passagem do tempo no ferro e as formas criadas com a corrosão nesse material. Depois, o seu olhar alargou-se para outros materiais: a madeira - na sua forma mais natural ou já trabalhada pelo Homem -, a pedra, o papel, o tecido e a erosão, desgaste, patentes nos mesmos…

Nesta página aparecem imagens dos efeitos do inexorável tempo nesses vários materiais. Cada imagem é acompanhada por um texto - poema ou prosa de autor terceiro, devidamente identificado - alusivo ao tema (tempo, erosão, corrosão, desgaste...), tanto literal como figurativamente...

Esta será uma página em permanente construção... até decisão em contrário... :-)



A PORTA...

Instalação: 
Técnica mista - madeira, metal e imagem
impressa em pvc
área total = 204 cm x 78 cm
imagem = 55 cm x 49,5 cm; pvc = 5 mm

Imagem: Samouco, Alcochete, 28.04.2018






       

       


      Nunca se sabe
     quando  estamos num lugar
     pela última vez. Numa casa
    que vai ser demolida, numa sala
    provisória que vai encerrar, num velho
    café que mudará de ramo, como
    página virada jamais reaberta, como
    canção demasiado gasta, com
    abraço tornado irrepetível, numa
    porta a que não voltaremos.



                   INÊS LOURENÇO, Sala Provisória,
                   in O Segundo Olhar










****

Because each photograph is only a fragment, its moral and emotional weight depends
on where it is inserted. A photograph changes according to the context in which is seen.

SUSAN SONTAG, On Photography




Imagem: MB - Moita, 10.02.2019 (Canon EOS 600D, 1/125 seg. f/5,6 30mm, ISO 100)




Imagem: MB - Moita, 10.02.2019 (Canon EOS 600D, 1/200 sg. f5,6, 21 mm, ISO 100)


****


"O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase maliciosos,
Sentir-nos ir,
Tendo as crianças
Por nossas mestras
E os olhos cheios
De natureza…"
RICARDO REIS, in Odes de Ricardo Reis, Ática, 1946



Imagem: Moita, 10.02.2019 (Canon EOS 600D, 1/125 seg. f/5,6 45mm, ISO 100)

****


"Algures pelo caminho, o tempo parecia ter parado de repente.
Se calhar, o tempo tinha realmente parado. Por outro lado, talvez continuasse a avançar, apesar de a evolução, ou coisa que o valha, ter posto o pé no travão. Como um restaurante que, ao aproximar-se a hora do encerramento, deixara de receber pedidos. E eu era o único que não tinha percebido."

HARUKI MURAKAMI, in A morte do comendador, Editora Casa das Letras



Imagem: MB, Montijo, 17.02.2018 (Canon EOS 600D, 1/200 seg. f/5,6 42mm, ISO 400)

Para quem estiver interessado em saber algo mais do autor citado, poderá fazê-lo em:

****

"Como o espaço, o tempo não revela nada de especial. Só percursos.
Folhas de uma agenda descartável."

ANA HATHERLYin 463 Tisanas, Quimera, 2006


Imagem: MB, Moita, 20.05.2018 (Canon EOS 600D, 1/500 seg. f/5,6 55mm, ISO 100)



Imagem: MB, Moita, 20.05.2018 (Canon EOS 600D, 1/320 seg. f/5,6 55mm, ISO 100)


****



"Deveríamos ter sempre diante dos olhos o efeito do tempo e a mutabilidade das coisas …"
 ARTHUR SCHOPENHAUER



Imagem: MB, Lisboa, 19.01.2019 (Canon EOS D600, 1/320 seg. f/5,6 33mm, ISO 1600)




Imagem: MB, Montijo, 17.02.2018 (Canon EOS D600, 1/200 seg. f/5,6 49mm, ISO 400)


****

“Será preciso explicar o sorriso da Mona Lisa para que você acredite em mim quando digo que o tempo passa?”
Paulo Leminski, TODA POESIA, ed. Companhia das Letras

Imagem: MB, Moita, 10.02.2019

****

O tempo é frequentemente destrutivo – como o são os escultores quando trabalham num bloco de pedra. Mas velhos rostos podem ser mais expressivos que rostos jovens, velhas paredes e esculturas mais ricas que as novas.
WALTER KAUFMANN, in O Tempo é um artista, www.citador.pt


Imagem: MB, Sarilhos Pequenos – Moita, 04.03.2019 (Canon EOS 600D, 1/200 seg. f/5,6 55mm, ISO 100)


****


O tempo, na sua marcha, utiliza e destrói o que é temporal. Também nele existe mais eternidade no passado que no presente. Valor da História efectivamente cumprida, semelhante à da recordação em Proust.


SIMONE WEILin A Gravidade e a Graça, Relógio D’Água, 2004






Imagem: MB, Sarilhos Pequenos – Moita, 04.03.2019 (Canon EOS 600D, 1/250 seg. f/5,6 18mm, ISO 100)



Imagem: MB, Sarilhos Pequenos – Moita, 04.03.2019 (Canon EOS 600D, 1/1000 seg. f/5,6 55mm, ISO 100)


****



E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos    E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites      não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos 


DAVID MOURÃO-FERREIRA, in Matura Idade, Arcádia, setembro 2010


Imagem: MB - Barreiro, 30.12.2018 (Canon EOS 600D,1/200 seg. f/5,6, 55mm, ISO 100)



****

Eu estou sempre aqui.

RUY CINATTI, in Obra Poética, vol. I, Assírio & Alvim, outubro 2016


MB - Moita, 10.02.2019 (Canon EOS 600D, 1/60 seg. f/5,6 39mm, ISO 400)



MB - Moita, 10.02.2019 (Canon EOS 600D, 1/100 seg. f/5,6 45mm, ISO 400)


****



O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou.

VIRGÍLIO FERREIRA, in www.citador.pt



Lisboa, 30.04.2016 (Canon EOS 600D, 1/250 seg. f/5,6 30mm, ISO 100)



Moita, 17.09.2016 (Canon EOS 600D, 1/100 seg. f/5,6 35mm, ISO 100)



Lisboa, 19.01.2019 (Canon EOS 600D, 1/320 seg. f/5,6 25mm, ISO 1600)

Comentários

Mensagens populares deste blogue

No princípio

Feliz Natal de 2023 e um um Ano novo de 2024 repleto de sentimentos bons...