Deus pede estrita conta de meu tempo. E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta. Mas, como dar, sem tempo, tanta conta, Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo? Para dar minha conta feita a tempo, O tempo me foi dado, e não fiz conta. Não quis, sobrando tempo, fazer conta. Hoje, quero fazer conta, e não há tempo. Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta, Não gasteis vosso tempo em passatempo. Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta! Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo, Quando o tempo chegar, de prestar conta, Chorarão, como eu, o não ter tempo... Soneto, Frei António das Chagas ( António Fonseca Soares). Séc. XVII Imagem: MB, Alhos Vedros, 04.05.2019