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Cobertos de folhagem

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  Cobertos de folhagem, na verdura, O teu braço ao redor do meu pescoço, O teu fato sem ter um só destroço, O meu braço apertando-te a cintura; Num mimoso jardim, ó pomba mansa, Sobre um banco de mármore assentados. Na sombra dos arbustos, que abraçados, Beijarão meigamente a tua trança. Nós havemos de estar ambos unidos, Sem gozos sensuais, sem más idéias, Esquecendo para sempre as nossas ceias, E a loucura dos vinhos atrevidos. Nós teremos então sobre os joelhos Um livro que nos diga muitas cousas Dos mistérios que estão para além das lousas, Onde havemos de entrar antes de velhos. Outras vezes buscando distração, Leremos bons romances galhofeiros, Gozaremos assim dias inteiro, Formando unicamente um coração. Beatos ou pagãos, vida à paxá, Nós leremos, aceita este meu voto, O Flos-Sanctorum místico e devoto E o laxo Cavaleiro de Faublas... Cesário Verde , in O Livro de Cesário Verde Imagem: MB, Lisboa, Rocha do Conde de Óbidos, julho 2019

Do amor

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  Aprendemos o Todo do Amor — O Alfabeto — as Palavras — Um Capítulo — depois o Livro imenso — E — a Revelação — então fechou-se — Mas uma Ignorância se fitou No Olhar de Cada um de Nós — Mais divina do que é a da Infância — E cada um para o outro, uma Criança — Tentando definir e explicar O que Nenhum de nós — compreendia — Ah, que é tão larga a Sabedoria — E a Verdade — têm formas tão diversas! (excerto) Emily Dickinson , em Duzentos Poemas Imagem: MB, Moita, 28.02.2021

Agasalho

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  " Ante o frio, faz com o coração o contrário do que fazes com o corpo: despe-o. Quanto mais nu, mais ele encontrará o único agasalho possível – um outro coração. Conselho do avô,"   Mia Couto ,  A chuva pasmada Imagem: MB, Lisboa, 28.06.2019

Em Portugal, 2021 é isto. Sonhar com o quotidiano

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  (Em Portugal, 2021 é isto. Sonhar com o quotidiano) Entrei – quem diria- numa pâtisserie (que havia no meu bairro e se reclamava de ser uma pastelaria), onde eu lia – que ousadia – um jornal em papel e bebia – destemidamente –  uma meia de leite, trincando com malícia uma bola de Berlim confeccionada em Lisboa. De cara destapada, tomava uma bica - assim se chamava então na Lusitânia  o café ordenhado de uma máquina inventada em Itália. Saía, punha com exagero a mão no chão. Abraçava a primeira pessoa que em seguida via. Respirava o sol que aos poucos dizia bom dia. Banhado no ar deliciosamente frio da manhã, não tremia, não me atrapalhava, nem morria. Supino Latino , 04-02-2021 Imagem: MB, 2017

Utopias

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  Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos se não fora A mágica presença das estrelas! Mario Quintana , Espelho Mágico Imagem: MB, Moita, 07.03.2021 (composição) 

Diz o meu nome

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  Diz o meu nome pronuncia-o como se as sílabas te queimassem [os lábios sopra-o com a suavidade de uma confidência para que o escuro apeteça para que se desatem os teus cabelos para que aconteça Porque eu cresço para ti sou eu dentro de ti que bebe a última gota e te conduzo a um lugar sem tempo nem contorno Porque apenas para os teus olhos sou gesto e cor e dentro de ti me recolho ferido exausto dos combates em que a mim próprio me venci Porque a minha mão infatigável procura o interior e o avesso da aparência porque o tempo em que vivo morre de ser ontem e é urgente inventar outra maneira de navegar outro rumo outro pulsar para dar esperança aos portos que aguardam pensativos No húmido centro da noite diz o meu nome como se eu te fosse estranho como se fosse intruso para que eu mesmo me desconheça e me sobressalte quando suavemente pronunciares o meu nome Mia Cout o, in Raiz de Orvalho Imagem: MB, Moita, 07.03.2021

A primavera que irá chegar

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 " A consciência de uma planta no meio do inverno não está voltada para o verão que passou, mas para a primavera que irá chegar. A planta não pensa nos dias que já foram, mas nos que virão. Se as plantas estão certas de que a primavera virá, por que nós – os humanos – não acreditamos que um dia seremos capazes de atingir tudo o que queríamos?" Khalil Gibran Imagem: MB, Moita, 28.02.2021