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Vento no rosto

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  À hora em que as tardes descem, noite aspergindo nos ares, as coisas familiares noutras formas acontecem. As arestas emudecem. Abrem-se flores nos olhares. Em perspectivas lunares lixo e pedras resplandecem. Silêncios, perfis de lagos, escorrem cortinas de afagos, malhas tecidas de engodos. Apetece acreditar, ter esperanças, confiar, amar a tudo e a todos. António Gedeão Imagem: MB, Moita, 24.08.2020 

Claridade

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  De minha vida não sei senão que sou feliz. Lá o que fui ou fiz antes de ser o que sou, ai!, tudo me passou: só sei que sou feliz. E que me importa a cor das águas que passaram? Estas águas me bastam que vão correndo agora. Fosse o que fosse, a minha passada vida incerta (feliz ou desgraçada), foi uma porta aberta pra esta vida clara. Por isso eu a bendigo, a minha vida ida. Talvez as rosas nela tivessem bem mais cor, o Sol mais Luz e Amor, e música mais bela a viração, então; mais verde fosse o Mar... - Mas que vale o que foi, se, quanto vejo ou provo, tem tudo um gosto novo?... Se nada cansa ou dói?... Se as rosas, para mim, nasceram mesmo agora, e as aves e o Mar?... Se o Sol aconteceu ao mesmo tempo que eu olhei à minha roda e vi o meu presente a ser-me a vida toda?... Sebastião da Gama , Serra-Mãe Imagem: MB, Moita, 04.07.2020 

Fronteira

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  "(...) qualquer fronteira constitui um convite à transgressão." Marc Jimenez , in  A querela da arte contemporânea , edição Orfeu Negro Imagem: MB, Moita, 26.03.2021 

Arranhões

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  "- Sabe o melhor dos corações despedaçados? - perguntou a bibliotecária.    Neguei.   - Que só podem ser despedaçados uma vez. O resto são arranhões." Carlos Ruiz Zafon , in O  jogo do anjo   Imagem: MB, Moita, 24.01.2021

Onde vamos...

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  "Onde vamos livres Onde vamos presos correr como rios durar como pedras e lançar raízes" António Reis ,  Poemas quotidianos,  edição Tinta da China Imagem: MB, Moita, 27-6-2021

Chama

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  I NSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA A vida é um incêndio: nela dançamos, salamandras mágicas Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta? Em meio aos toros que desabam, cantemos a canção das chamas! Cantemos a canção da vida, na própria luz consumida... Mario Quintana Imagem: MB, Moita, 04.04.2021

A flor que és

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  A flor que és não a que possa comprar, te venho oferecer. Porque não tem preço o que te ofereço. E se me debruço a colher a pétala, a terra inteira em teus dedos se desfolha. E se a mais pura flor para ti desenho a inteira pétala no nada se despenha. Porque és a sombra do sonho em que anoiteço. Morrer é ter terra finita. E eu tenho a febre da inatingível margem. Por isso encho de mar o teu olhar. Mia Couto, Vagas e Lumes Imagem: MB, Lisboa, Penha de França, 29-2-2020