Tocas-me?
"Claro que se tem medo que alguém nos entre pelos olhos.
Mas podes arder. Para a tua temperatura, sou mercúrio,
de mão, lábio e sopro. Atravesso-te porque me atravessas e
onde somos corsários rendemo-nos ao encanto da devolução.
...
Tu e eu à porta de um lugar que vai fechar tudo numa árvore.
Aqui onde os minutos são a rua em que nos sentamos toda a
tarde à espera do silêncio, onde o teu corpo pesa a medida
exacta do meu desejo.
Sou um animal. Necessito diariamente da transfusão de uma
enorme quantidade de calor.
Tocas-me?"
Vasco Gato, A PRISÃO E PAIXÃO DE EGON SCHIELE, ed. & Etc
Imagem: MB, Moita, abril 2020
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