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A mostrar mensagens de janeiro, 2021

Há palavras que nos beijam

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  Há palavras que nos beijam Como se tivessem boca, Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca. Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto, Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto. De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas, inesperadas Como a poesia ou o amor. (O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mármore distraído, No papel abandonado) Palavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes Abraçados contra a morte. Alexandre O'Neal , No Reino da Dinamarca Imagem: MB, Moita, 30.01.2021 

Erros individuais

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  Quem não arrisca não erra, não se expõe a que o vento lhe desmanche o penteado, a cosmética das máximas mais firmes. Este jovem, por exemplo, não arrisca, veste de luto por si mesmo, num ensaio de extinção. Ri-se dos passos que deixou por tropeçar. Cada minuto em silêncio, pensa ele, vale pelo menos seis dobrões de serenidade. Sepultado até aos ossos em palavras aprendidas, faz o encómio da vida retirada, dos dentes de leite. Escolheu o partido da solidão porque a vida o assusta. Assusta-o a turbulência do mal, a guinada sanguinária em que se jogam os sucessos, os triunfos - a vida, julga ele, é refractária à piedade. Fala-se, na vida, muito alto, cometem-se rasteiras e negaças por vontade. É de fugir ou devorar, comenta ele aos seus botões. E nada disso o apaixona. Não foi feito para guerras nem angústias, desconfia do amor e da fraqueza que nos une como eles de corrente ameaçada. Antes quer a sepultura dos libertos, declarar-se à fantasia dos caídos sem combate. E de tanto recuar,

Poupa a tristeza

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  Poupa a tristeza e gasta a alegria, às vezes faz amor com desejo, às vezes faz amor com desespero, às vezes não pode chamar amor ao que faz, quase sempre diz o que pensa mas sobretudo sabe esperar, espera como se tivesse todo o tempo do mundo, sabe que não tem tempo, tem um corpo, espera e sonha, espera e semeia, espera e o grou grui, o cisne arensa, o pavão pupila, o corvo trucila, o beija-flor rufla, o rouxinol trina, espera sem silêncio mas ouve um canto de sereia, tem a cabeça cheia de pássaros, tem o corpo cheio de penas, penas e paciência, não é prudência é paciência, é um corpo paciente, espera com senha o seu número, não pode voar, os aeroportos estão vazios, não pode voar, não é mau tempo é um tempo mau, espera pela Primavera que não será Primavera, e como se o coração fosse um papo, fosse um porta-moedas, migalha a milho a grão, poupa a alegria e gasta a tristeza. Raquel Serejo Martins Imagem: MB, Moita, 16.01.2021

O início de uma viagem

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  Sometimes, reaching out and taking someone’s hand is the beginning of a journey. – Vera Nazarian Imagem: MB, Moita, 10.01.2021

Com o tempo

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  Com o tempo aproximar-se-ão os rios e os montes, com o tempo acabará por te vir comer à mão e fazer ninho na tua cama  o silêncio. Eugénio de Andrade Imagem: MB, Moita, 27.12.2020

Vem, não te atrases ...

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  Vem, Não Te Atrases Quanto te apressas e me confessas, que está na hora Eu não te digo, que é um castigo ver-te ir embora Finjo que a dor, que sei de cor, pouco me importa Mas mal me deixas, sinto que fechas p'ra sempre a porta Vem, não te atrases O que fazes sem mim a esta hora? Volta para os meus braços, eu já esperei demais Vem não te atrases Eu perdoo-te a demora Se morares nos meus abraços e nunca mais me deixares Quando tu partes, faltam-me as artes para te prender Mas se não estás, não sou capaz de adormecer Acendo estrelas, pelas janelas da casa fria Mas se não chegas, sinto-me ás cegas até ser dia Vem, não te atrases O que fazes sem mim a esta hora? Volta para os meus braços, eu já esperei demais Vem não te atrases Eu perdoo-te a demora Se morares nos meus abraços e nunca mais me deixares Poema e Composição: Maria do Rosário Pedreira e Armandinho Freire (Fado de Carlos do Carmo) Imagem: MB, Moita, 10.01.2021

Raciocinar através de imagens

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  "Nós somos capazes de raciocinar através das imagens e são essas imagens que constituem a nossa mente” António Damás io em Deus Cérebro Imagem: MB, Moita, 16.01.2021

Até amanhã

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  Sei agora como nasceu a alegria, como nasce o vento entre barcos de papel, como nasce a água ou o amor quando a juventude não é uma lágrima. É primeiro só um rumor de espuma à roda do corpo que desperta, sílaba espessa, beijo acumulado, amanhecer de pássaros no sangue. É subitamente um grito, um grito apertado nos dentes, galope de cavalos num horizonte onde o mar é diurno e sem palavras. Falei de tudo quanto amei. De coisas que te dou para que tu as ames comigo: a juventude, o vento e as areias. Eugénio de Andrade , Até Amanhã Imagem: MB, Moita, 10.01.2021

Uma espécie de silêncio...

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Deito-me tarde Espero por uma espécie de silêncio Que nunca chega cedo Espero a atenção a concentração da hora tardia Ardente e nua É então que os espelhos acendem o seu segundo brilho É então que se vê o desenho do vazio É então que se vê subitamente A nossa própria mão poisada sobre a mesa É então que se vê o passar do silêncio Navegação antiquíssima e solene Sophia de Mello Breyner Andresen Imagem: MB, Moita, 16.01.2021 

Coração

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  Quem nasce com coração? Coração tem que ser feito. Já tenho uma porção Me infernando o peito. Com isso ninguém nasça. Coração é coisa rara, Coisa que a gente acha E é melhor encher a cara. Paulo Leminski , in  Toda Poesia (excerto) Imagem: MB, Moita, 10.01.2021    https://www.youtube.com/watch?v=v3xwCkhmies Queen - Love of My Life Wembley, '86. www.youtube.com