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A mostrar mensagens de novembro, 2024

Diz-me por favor

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  Diz-me por favor onde não estás em qual lugar posso não te ver, onde posso dormir sem te lembrar e onde relembrar sem que me doa. Diz-me por favor onde posso caminhar sem encontrar as tuas pegadas, onde posso correr sem que te veja e onde descansar com a minha tristeza. Diz-me por favor qual é o céu que não tem o calor do teu olhar e qual é o sol que tem luz apenas e não a sensação de que me chamas. Diz-me por favor qual é o lugar em que não deixaste a tua presença. Diz-me por favor onde no meu travesseiro não tem escondida uma lembrança tua. Diz-me por favor qual é a noite em que não virás velar meus sonhos. Que não posso viver porque te espero e não posso morrer porque te amo. Gustavo Alejandro Castiñeiras Imagem: MB, Gaio, 03.11.2024

Contemplemos

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  "Contemplemos o mundo que não atravessamos." José Tolentino Mendonça , in A Papoila e o Monge Imagem: MB, Moita, 28.09.2024

Tocas-me?

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  "Claro que se tem medo que alguém nos entre pelos olhos. Mas podes arder. Para a tua temperatura sou mercúrio, linhas de mão, lábio e sopro. Atravesso-te porque me atravessas e onde somos corsários rendemo-nos ao encanto da devolução. Tu e eu à porta de um lugar que vai fechar tudo numa árvore. Aqui onde os minutos são a rua em que nos sentamos toda a tarde à espera do silêncio, onde o teu corpo pesa a medida exacta do meu desejo. Sou um animal. Necessito diariamente da transfusão de uma enorme quantidade de calor. Tocas-me?" Vasco Gato , in  A prisão e a paixão de Egon Schiele,  edição & Etc. Imagem: MB, Moita, 14.11.2024

Recantos privados

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  "É possível que todos (...) tivessem pequenos segredos como esse - pequenos recantos privados onde podiam refugiar-se com os seus medos e desejos." Kazuo Ishiguro , in  Nunca me deixes Imagem: MB, Forninho, 05.11.2024

Como uma nuvem

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  Devia morrer-se de outra maneira. Transformarmo-nos em fumo, por exemplo. Ou em nuvens. Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer: “Fulano de tal comunica a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio”. E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir a despedida. Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio. “Adeus! Adeus!” E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes… (primeiro, os olhos… em seguida, os lábios… depois os cabelos… ) a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo… tão leve… tão subtil… tão pólen… como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono ainda tocada por um vento de lábios azuis… José Gomes Ferreira , in 'Poesia II' Imagem: MB, Moita, 25.10.2024

Ausência

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  Num deserto sem água  Numa noite sem lua Num país sem nome Ou numa terra nua Por maior que seja o desespero Nenhuma ausência é mais funda do que a tua. Sophia de Mello Breyner Andresen Imagem: MB, Lisboa, 10.11.2024

Acariciarei o ar...

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  "Acariciarei o ar e sorrirei à sombra para o caso de na sombra me olhares e no ar me beijares." Dulce María Loynaz , in  Jardim de Outono,  Edição Flâneur Imagem: MB, Lisboa, 10.11.2024

O tremor da luz

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  "Passaste pelo meu coração como o tremor da luz pela rede farta do pescador." Dukce María Loynaz , in  Jardim de Outono,  Edição Flâneur Imagem: MB, Rosário, 09.11.2024

Espelhos

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  "E de tudo os espelhos são a invenção mais impura." Herberto Helder , in Ofício Cantante, Assírio e Alvim Imagem: MB, Lisboa, 10.10.2024

Não deixes que termine o dia...

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  Não deixes que termine o dia sem teres crescido um pouco, sem teres sido feliz, sem teres aumentado os teus sonhos. Não te deixes vencer pelo desalento. Não permitas que alguém retire o direito de te expressares, que é quase um dever. Não abandones as ânsias de fazer da tua vida algo extraordinário. Não deixes de acreditar que as palavras e a poesia podem mudar o mundo. Aconteça o que acontecer a nossa essência ficará intacta. Somos seres cheios de paixão. A vida é deserto e oásis. Derruba-nos, ensina-nos, converte-nos em protagonistas de nossa própria história. Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua: tu podes tocar uma estrofe. Não deixes nunca de sonhar, porque os sonhos tornam o homem livre. Walt Whitman Imagem: MB, Graça - Lisboa, 10.11.2024

Significado

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  (...) Qual é o significado da vida? Isso era tudo – uma questão simples; uma questão que tendia a nos envolver mais com o passar dos anos. A grande revelação nunca chegara. A grande revelação talvez nunca chegasse. Em vez disso, havia pequenos milagres cotidianos, iluminações, fósforos inesperadamente riscados na escuridão. — Virginia Woolf , in  Ao Farol. Imagem: MB, Lisboa, 10.11.2024

Convite à viagem

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 Quando iremos ao mar, tu e eu, juntos e sós?, quando poderemos ir ao mar?, poderemos?, iremos algum dia tu e eu ao mar? Não conheço a areia entre os teus dedos, nem o cheiro do protector solar nos teus ombros, não ouvi contigo o rumor das ondas e não beijei o sal nos nossos lábios.  Não  sei o que é ficar calada, a teu lado, a olhar o horizonte Não vi o mar contigo. Não  sei o que é o mar. Amalia Bautista, in Coração desabitado, edição Averno Imagem: MB, Moita, 20.10.2024

Quando não disse nada

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  1. Ontem pensei no meu amor por ti. Recordei as gotas de mel nos teus lábios  e lambi o açúcar  das paredes da minha memória.  2. Por favor, respeita o meu silêncio, o silêncio é a minha melhor arma. Escutaste as minhas palavras quando fiquei silencioso? Sentiste a beleza do que disse quando não disse nada? Nizar Kabanni Imagem: MB, Forninho, 05.11.2024

Antes de amar-te...

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  Antes de amar-te, amor, eu nada tinha: vacilei pelas ruas e pelas coisas: nada contava nem tinha nome: o mundo era do ar que aguardava. Conheci salões cinzentos, túneis habitados pela lua, hangares cruéis que se despediam, perguntas que teimavam sobre a areia. Tudo estava vazio, morto e mudo, caído, abandonado e abatido, tudo era inalienavelmente alheio, tudo era dos outros e de ninguém, até que a tua beleza e a tua pobreza encheram o outono de presentes. Pablo Neruda , in Cem Sonetos de Amor Imagem: MB, Gaio, 03.11.2024