Saudade que persiste

 

A saudade mais funda não é a da ausência total.

É a daquela presença que continua — mas distante.

É o som da voz que ainda ecoa, mas não nos chama mais.

É o toque que a pele recorda, mas que já não alcança.


Há algo cruel em amar alguém que permanece, mas não mais connosco.

Não é luto. É uma espera sem relógio.

Não é partida. É uma permanência em silêncio.

O outro ainda respira, ainda sorri em algum lugar —

mas não aqui, onde os nossos olhos precisam.


A saudade que insiste quando o amor persiste é a mais teimosa.

Ela não se resolve com tempo, porque o tempo não a leva.

Ela não se alivia com adeus, porque não houve despedida.

Ela mora entre o que foi e o que poderia ser,

no espaço suspenso entre o toque e o vazio.


É duro saber que o coração do outro ainda bate,

mas não mais no compasso do nosso.

Que a vida segue - bela ou difícil - mas alheia à nossa falta.


E mesmo assim, mesmo doendo, a gente ama.

Ama no silêncio, no respeito, na distância.

Ama porque amar não depende da presença.

Ama porque, apesar de tudo, o amor ficou.

E com ele, a saudade.


Persistente.

Intensa.

Fiel.


Helena Sacadura Cabral

Imagem: MB, Moita, 24.07.2025



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