Saudade que persiste
A saudade mais funda não é a da ausência total. É a daquela presença que continua — mas distante. É o som da voz que ainda ecoa, mas não nos chama mais. É o toque que a pele recorda, mas que já não alcança. Há algo cruel em amar alguém que permanece, mas não mais connosco. Não é luto. É uma espera sem relógio. Não é partida. É uma permanência em silêncio. O outro ainda respira, ainda sorri em algum lugar — mas não aqui, onde os nossos olhos precisam. A saudade que insiste quando o amor persiste é a mais teimosa. Ela não se resolve com tempo, porque o tempo não a leva. Ela não se alivia com adeus, porque não houve despedida. Ela mora entre o que foi e o que poderia ser, no espaço suspenso entre o toque e o vazio. É duro saber que o coração do outro ainda bate, mas não mais no compasso do nosso. Que a vida segue - bela ou difícil - mas alheia à nossa falta. E mesmo assim, mesmo doendo, a gente ama. Ama no silêncio, no respeito, na distância. Ama porque amar não depende da presença....