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À espera de Godot

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  "O que agora só de longe a longe acontece, porque as pernas nem sempre obedecem ao que lhes mando, dias atrás sentei-me numa esplanada da vila a fazer horas para o almoço. Olhares vagos, caras aborrecidas, corpos fatigados, conversa em sussurros, umas trinta pessoas na meia-idade em mesas de duas e três, a atitude de quem espera o improvável Godot, o personagem que nunca chega. Seguiam com os olhos um ou outro carro, um ou outro cão que se arrastava do sol para a sombra. Ao anoitecer voltei à esplanada. Quase a mesma gente, o mesmo vazio no olhar, as caras mostrando igual aborrecimento, os corpos curvados agora num pouco mais de fadiga. De vez em quando uma frase, um murmúrio. Sento-me. Oiço alguém dizer: - Uma água! O empregado, a mão apoiada à ombreira do café, parece despertar. - E mais duas bicas – diz a mesma voz. O rapaz leu nos meus lábios que lhe pedia cerveja, acenou um sim, e a passo arrastado  desapareceu no estabelecimento. A carrinha fez mal a curva, galgou o passei