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Fadiga

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  "A fadiga que sentimos não é tanto do trabalho acumulado, mas de um quotidiano feito de rotina e de vazio. O que mais cansa não é trabalhar muito. O que mais cansa é viver pouco. O que realmente cansa é viver sem sonhos." Mia Couto Imagem: MB, Lisboa 31.01.2023

Por vezes...

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  Sabes por vezes queria beijar-te. Sei que consentirias. Mas se nos tivéssemos dado um ao outro ter-nos-íamos separado porque os beijos apagam o desejo quando consentidos. Foi melhor sabermos quanto nos queríamos, sem ousarmos sequer tocar nossos corpos. Hoje tenho pena. Parto com essa ferida. Tenho pena de não ter percorrido teu corpo como percorro mapas, com os dedos teria viajado em ti do pescoço às mãos da boca ao sexo. Tenho pena de nunca ter murmurado teu nome no escuro. Acordado perto de ti. As noites teriam sido de ouro e as mãos teriam guardado o sabor do teu corpo.   Al Berto Imagem: MB, Moita, 30.01.2023

Pergunta-me

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  Pergunta-me se ainda és o meu fogo se acendes ainda o minuto de cinza se despertas a ave magoada que se queda na árvore do meu sangue Pergunta-me se o vento não traz nada se o vento tudo arrasta se na quietude do lago repousaram a fúria e o tropel de mil cavalos Pergunta-me se te voltei a encontrar de todas as vezes que me detive junto das pontes enevoadas e se eras tu quem eu via na infinita dispersão do meu ser se eras tu que reunias pedaços do meu poema reconstruindo a folha rasgada na minha mão descrente Qualquer coisa pergunta-me qualquer coisa uma tolice um mistério indecifrável simplesmente para que eu saiba que queres ainda saber para que mesmo sem te responder saibas o que te quero dizer Mia Couto,   Raiz de Orvalho Imagem: MB, Moita, 02.01.2023

Quando fores velha

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  "Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono, Dormitando junto à lareira, toma este livro, Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar Que  outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas; Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto, Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor, Mas apenas um homem amou tua alma peregrina, E amou as mágoas do teu rosto que mudava; Inclinada sobre o ferro incandescente, Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou E em largos passos galgou as montanhas Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas." William Butler Yeats , Quando Fores Velha, in Uma Antologia Tradução de José Agostinho Baptista Imagem: MB, Moita, 06.01.2023

Perfeitamente desigual

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  Amor perfeitamente desigual. Com você aprendi, entendi e compreendo que amar é sobre prestar e prestar muito a atenção, no que eu falo, no que sinto, do que gosto, do que me faz sorrir, do que me faz chorar, e principalmente o que me deixa brava. Isso porque você presta a atenção em cada detalhe no que se refere a mim, é meio clichê dizer que você sabe mais de mim, até mais do que eu mesma, meu filme favorito, meu livro preferido, a quantidade de açúcar no meu café, minha música predileta, e também o meu poeta, sabe o quanto sou metade lúcida e metade insana, e diz que isto te encanta, dar risada do meu gosto duvidoso por pão dormido, mas é sorrindo que o divide comigo, acha o máximo eu usar uma meia diferente em cada pé, isso me faz única para você, e só um pouquinho “louca”! Então, foi quase se me dar que me descobrir te amando, em cada vez que você me olha e de verdade me ver, pois quando te vejo, entre coisas que são minhas e são tuas, eu também me vejo, e se é verdade que Deus m

O silêncio

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  O Silêncio Quando a ternura parece já do seu ofício fatigada, e o sono, a mais incerta barca, inda demora, quando azuis irrompem os teus olhos e procuram nos meus navegação segura, é que eu te falo das palavras desamparadas e desertas, pelo silêncio fascinadas. Eugénio de Andrade , in  Obscuro Domínio Imagem: MB, Moita, 13.01.2023

Pausa

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  tens de a ter, caso contrário, as paredes cercar-te-ão. tens de desistir de tudo, deitar fora, deitar tudo fora. tens de olhar para o que estás a olhar ou pensar no que estás a pensar ou fazer o que estás a fazer ou a não fazer sem considerar proveito pessoal sem aceitar orientação. as pessoas estão consumidas com o esforço, escondem-se em hábitos comuns. as suas preocupações são preocupações de manada. poucos têm capacidade de olhar para um sapato velho durante dez minutos ou de pensar em coisas estranhas como: quem é que inventou a maçaneta? tornam-se desvivas por serem incapazes de fazer uma pausa de se desarmarem de se desdobrarem de desverem de desaprenderem de se exporem. escuta o seu riso falso, depois vai-te embora. Charles Bukowsk i , OS CÃES LADRAM FACAS (Antologia Poética), selecção, organização e prefácio de Valério Romão, tradução de Rosalina Marshall, ed. Alfaguara Imagem: MB, Gaio, Moita, 23.01.2023