A um gato

 A um gato

Não são mais silenciosos os espelhos
Nem mais furtiva a aurora aventureira;
Tu és, sob a lua, essa pantera
que divisam ao longe nossos olhos.
Por obra indecifrável de um decreto
Divino, buscamos-te inutilmente;
Mais remoto que o Ganges e o poente,
É tua a solidão, teu o segredo.
O teu dorso condescende à morosa
Carícia da minha mão. Sem um ruído
Da eternidade que ora é olvido.
Aceitaste o amor desta mão receosa.
Em outro tempo estás. Tu és o dono
de um espaço cerrado como um sonho.

Jorge Luís Borges, in O Ouro dos Tigres


Imagem: MB, Moita, 22.08.2020


Comentários

Mensagens populares deste blogue

No princípio

Feliz Natal de 2023 e um um Ano novo de 2024 repleto de sentimentos bons...