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A mostrar mensagens de novembro, 2020

Elegia ao Poente

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Elegia ao Poente Tão ténue a luz deste macerado sol que em nossos olhos poisa, canta e morre… Entreguemos os corpos à sombra que o envolve. E talvez sejamos os rios que a lua prometeu chorar. Pedro Belo Clara, in  Recortes do Real Imagem: MB, Moita, 21.05.2020

Se nada te faz sentido ...

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  Se nada te faz sentido….    Se não te sou suficiente porque ficas e me perturbas com a minha insuficiência?  Se tudo te cansa porque insistes e me agitas com o teu cansaço? Se só existe o bocejo porque insistes e me alimentas um ânimo quase moribundo? Se o amor é vazio porque me rasgas a pele como se fosse a primeira vez... Se nada te faz sentido... ​ MLS , 2020 Imagem: MB, Moita, 27.11.2020

Confiança

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Confiança O que é bonito neste mundo, e anima, É ver que na vindima De cada sonho Fica a cepa a sonhar outra aventura… E que a doçura Que se não prova Se transfigura Numa doçura Muito mais pura E muito mais nova… Miguel Torga , Cântico do Homem Imagem: MB, Moita, 16.11.2020

Solidão

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  "...A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz..." José Saramago ,  O Ano da Morte de Ricardo Pais Imagem: MB, Moita, 23.11.2020

Breve...

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  Se tu me amas, ama-me baixinho Não o grites de cima dos telhados Deixa em paz os passarinhos Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda. Mario Quintana , Esconderijos do tempo Imagem: MB, Moita, 10-11-2020

Ode para o futuro

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  Falareis de nós como de um sonho. Crepúsculo dourado. Frases calmas. Gestos vagarosos. Música suave. Pensamento arguto. Subtis sorrisos. Paisagens deslizando na distância. Éramos livres. Falávamos, sabíamos, e amávamos serena e docemente. Uma angústia delida, melancólica, sobre ela sonhareis. E as tempestades, as desordens, gritos, violência, escárnio, confusão odienta, primaveras morrendo ignoradas nas encostas vizinhas, as prisões, as mortes, o amor vendido, as lágrimas e as lutas, o desespero da vida que nos roubam - apenas uma angústia melancólica, sobre a qual sonhareis a idade de oiro. E , em segredo, saudosos, enlevados, falareis de nós - de nós! - como de um sonho. Jorge de Sena , Pedra Filosofal Imagem: MB, Moita, 17.05.2020  

O silêncio é poético

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"O silêncio é poético. Poesia pura. Nele se criam e alimentam os sonhos... Só no silêncio se vive verdadeiramente. Ao silêncio caberá sempre a última palavra. Nele o vazio de sentido não existe, porque a solidão do repouso, onde o tempo passa sem pressas, permite que a paciência alcance a sabedoria de conhecer o ser de cada coisa, o todo de cada detalhe… só o silêncio possibilita o tempo e o espaço onde o sentido se revela. Com a paz dos silêncios, a verdadeira esperança faz-se coragem." José Luís Nunes Martins Imagem: MB, Moita, 18.11.2020    

Presença

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  Tem mais presença em mim o que me falta. Manoel de Barros Imagem: MB, Moita, 10.11.2020

Agora mesmo

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  (...) Amanhã, ou enquanto dormes - agora mesmo - vou pensar em ti Intensamente: até que as horas me doam sobre a pele, e o movimento dos dias passe como aves que perdem o sentido do voo - até que tudo o que me rodeia tome a forma do teu corpo E em mim circules - quando estendo a mão por dentro da noite e te acordo, no fogo dos meus olhos. Al Berto , in Horto de Incêndio Imagem: MB, 18-10-2020

Cai o sol nas ramadas...

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  Cai o sol nas ramadas.  O sol, esse Van Gogh desumano...  E telas amarelas, calcinadas,  Fremem nos olhos como um desengano.  A cor da vida foi além de mais!  Lume e poeira, sem que o verde possa  Refrescar os craveiros e os tendais  De uma paisagem mais secreta e nossa.  Apenas uma fímbria namorada,  Vermelha e roxa, se desenha ao fundo  O mosto de uma eterna madrugada  Que vem do incêndio refrescar o mundo. Miguel Torga , Diário III Imagem: MB, Moita, 10.11.2020 

Nada é eterno

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  Nada é eterno. A eternidade passa depressa,  meu amor,  como a ciência. Artur do Cruzeiro Seixas (1920-2020) Imagem: MB, Moita, 02.11.2020 

Papoila vermelha

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A melhor coisa é não ter cabeça. Sentimentos: oh, esses tenho, pois eles governam-me. Tenho um senhor no céu a que chamo sol, e abro-me para ele, mostrando-lhe o fogo do meu próprio coração, um fogo como o da sua presença. Que glória poderia ser essa senão um coração? Oh, irmãos e irmãs, terão sido como eu, há séculos, antes de serem humanos? Ter-se-ão deixado abrir uma vez, para nunca mais abrir? Porque de facto neste instante falo tal como vós. Falo porque estou destruída. LOUISE GLÜCK Tradução de Ricardo Marques Imagem: MB, Moita, 25.10.2020

Somos instantes

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  Não sei o que será de nós amanhã Somos instantes feitos de agora Conservo sentimentos bons aqui dentro E o que não for eu deixo lá fora (excerto) Gabriel Elias/ Vitor Kley , in Álbum Somos Instantes Imagem: MB, Moita, 16.11.2020

Argumentos

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  POEMA ENCONTRADO NO FUNDO DO BALDE DO LIXO Conheço todos os argumentos. Conheço todos os contra-argumentos. Conheço a futilidade da nossa vida. Conheço a fome, a sede, a ânsia. A alegria. O amor? Também. O desamor. A felicidade e a desgraça. Tropeço cada dia na mesma pedra. Tropeço cada dia na mesma pedra. Tropeço cada dia na mesma pedra. No fim já não se sabe se há pedra ou se tropeçamos por hábito, por amor à arte, porque não somos capazes de outra coisa. Porque o homem é um animal que tropeça. Porque não somos capazes de outra coisa. Roger Wolfe