Ao meu pai, em dia de aniversário

"As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
- como são belas as tuas mãos -
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predilecta,
uma luz parece vir de dentro delas...
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
Como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, como os fizeste arder, fulgir,
com o milgre das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida que transcende a própria vida...
e que os anjos, um dia, chamarão de alma..."

Mário Quintana, in Esconderijos do tempo

Imagem: MB, composição, 2022




 

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