O que aproxima os amigos

 


O que aproxima os amigos, o que os liga entre si é a descoberta de uma afinidade interior, puramente gratuita, mas suficientemente forte para fazer persistir no tempo o afeto, a cumplicidade e o cuidado. Se quisermos explicar que afinidade é essa, nem saberemos. E isto é verdade tanto na amizade anónima que, por exemplo, dois miúdos do mesmo bairro estão agora a iniciar, como nas amizades célebres, como a de Montaigne por Étienne de La Boétie, que levou o primeiro a escrever: «Na amizade, as almas mesclam-se e fundem-se uma na outra em união tão absoluta que apagam a sutura que as juntou, de sorte a não mais a encontrarem. Se me intimam a dizer porque era seu amigo, sinto que só o posso exprimir respondendo: porque era ele, porque era eu.» Não há razões que expliquem uma amizade duradoura para além deste «porque era ele, porque era eu». O resto não tem importância.

A amizade é uma espécie de fraternidade que elegemos. São irmãs e irmãos para a vida; presenças de todas as horas; baluartes discretos, mas inamovíveis; companheiros de viagem, mesmo quando não estão fisicamente ao nosso lado. Os amigos falam uma língua só deles: bastam meias-palavras. Às vezes até um olhar é suficiente para compreendermos tudo o que se passa connosco.

Cardeal D. José Tolentino Mendonça,  in Pequeno Caminho das Grandes Perguntas


Imagem: MB, Dublin, 31.07.2022



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