Tal como éramos...

 

Ingrata a velhice, aborrecidos os seus símbolos
- sem valor literário - demasiado previstos.
Apenas resta - todos os dias mais estranha - a surpresa
de um inesperado momento redivivo,
como há instantes, ao ver a televisão.
Um gasto filme de outro tempo
- horrível dobragem, exageradas cores -,
a penetrante estupidez dos anúncios.
Contudo, ele e ela - anos depois de se terem separado -
encontram-se à porta de um hotel,
em Nova Iorque, reconhecem-se, dizem uma frase vulgar
e separam-se, desta vez para sempre.
Repetida a cena, banal a história,
mas, talvez, toda a minha vida pode resumir-se nessa imagem.
Melancolia dos sonhos perdidos
- entre marcas de automóveis e detergentes -
no vidro infinito de um televisor nocturno que não consegue
             dormir.
Juan Luis Panero, tradução Joaquim Manuel Magalhães, ed. Relógio D'Água

Imagem: MB, Lisboa, 16.05.2023





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