Onde o sossego dorme

 

Onde o sossego dorme
Como se fosse alguém
E à noite negra e enorme
Nem luar nem dia vem...
Ali, quieto, absorto
Em nada já saber,
Quero, quando for morto,
Consciente esquecer...
Deixando a vida incerta,
Perdido o gozo e a dor,
Sob essa noite aberta
Sonhar sem o supor...
Até que ao fim de uma era
Que o tempo não contou
O que eu não reavera
Se muda no que eu sou.
E então, e sempre, alheio
A quanto sucedera
Continuar no enleio
Do sono que me dera.

Fernando Pessoa

Imagem: Moita, 23.12.2024




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