Meia-idade

 

Pensando bem... a meia-idade é um território estranho.
A gente ainda adora fazer amor — mas, se tiver que responder questionário antes... meu amor, desliga o motor. Cadê a espontaneidade? Roubaram.
Praia? Só se for com sombra de coqueiro garantida, silêncio absoluto e, no máximo, três gaivotas de companhia. E olhe lá.
Festa? Até topo. Mas tem que ter cláusula no convite:
"Encerra-se às 22h, pois a Cinderela aqui vira abóbora pontualmente às 23h." Ah! Cadeira para sentar.
O que nos move mesmo é:
Paz. Daquela que te deixa ouvir o próprio pensamento.
Comida que não vem com hashtag, só com sabor.
Roupas que perdoam o jantar e abraçam a barriga.
Uma mala sem voo de conexão, mas com vinho no destino.
Extrato bancário sem sustos, só com boas notícias.
E aquele saldo que sobrevive ao dia 5.
Isso, gente, é o verdadeiro luxo contemporâneo.
E não é conformismo — é pacto de sanidade.
Dizem que é cansaço... Mentira. É economia de energia vital.
Chamam de falta de entusiasmo... Ilusão. É sabedoria operacional.
Queremos prazer? Queremos.
Vinho? Até o último gole.
Amor? Mais que nunca.
Mas com cláusulas:
Sem histeria.
Sem novela mexicana.
Sem enredo que dê gastrite.
Porque a grande revolução da meia-idade não está nos cabelos brancos...
Está na coragem de dizer:
"Paz não é opção. É condição básica de funcionamento."
@aurorazanco_escritora

Imagem: MB, Moita, 05.08.2025




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